sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Conversa de bar

O post anterior conserva sua "aura":

Tomou um gole de cerveja para molhar a garganta e continuou:
- Então, quando eu achava que estava indo tudo bem entre a gente ela me vem com essa história...
- Orra. Mulher é foda. Eae, como vocês terminaram?
- Meti a cabeça dela na pia, aquela filha da puta.
Todos se entreolharam quietos.
- Qualé, pessoal? Não vão comer mais a batata?

Libertango

É como se vai chegando que faz toda diferença.
Tem que ter um pouco de demora temporal cinematográfica mas com o coração a mil.
E é bom que vá esmagando a garganta, entrelaçando os dedos, sem tocar.
Dá-se uma pequena chance de respirar, para que não morra. Mostre alguma compaixão dominadora.
E quando tudo parece amenizar, PUXA COM FORÇA e gira intensamente até não se reconhecer mais aquilo que vê. Não enxergar nem fora nem dentro, outro lugar.
Nesse momento já se está nas mãos, nos pés e onde mais se conseguir imaginar.
Morra

E descance para a próxima.

domingo, 6 de janeiro de 2008

Só mesmo louco

O post anterior é parte de um todo:

"De louco todo mundo tem um pouco". Mas pouco. Apenas alguns poucos têm muito de louco. E são esses poucos que são os melhores naquilo que fazem, verdadeiros especialistas que ultrapassaram a barreira do "prático e útil" e agora vivem sua loucura de fazer por fazer, ser por ser.
Descobri que, para ser bom, tem de ser louco.
Mas o louco corre um grande risco social: ser louco. Afinal, sendo ele apreciado ou repudiado pela maioria das pessoas, é com essa maioria que ele não consegue se comunicar. É para a maioria que ele não passa de um ser inalcançável.
Bom, então... o louco é aquele que não se comunica como a grande maioria que o idolatra ou o repudia. Metafóricamente ele fala outra língua, ele vem de outra região do universo.
Ele é o ser estranho.
Mas garanto que naum está nem um pouco se fudendo pra tudo isso.

Passados meio-dia

Posts anteriores existem por esse motivo:

O sangue escorria, finalmente saíra de dentro da fissura. O vermelho vivo dos tomates perdera seu brilho para o líquido que fluía.
Chegou mais perto para olhar melhor, apertou os olhos e entortou a cabeça.
Afinal, o que é e para que serve a vida? Por que motivo estamos todos vivos, tendo que sobreviver? Aquele sangue alí não era por acaso. O sangue era a resposta, a pergunta e a pista.
Olhou, então para a faca que ficara ao lado dos tomates sobre a pia. Limpou rapidamente o dedo e voltou ao seu trabalho.
"Tomarei mais cuidado ao fazer a salada..."

Do horror de querer sera alguma coisa

O post anterior lembra um pouco esse aqui:

Levava um vida tão banal que nem ao menos se lembrava que dia era. Apenas seguiu em frente, rumo ao almoço.
Na rua, os tais carros passavam em suas tais friezas e velocidades fazendo aqueles tais ruídos maquinais e soltando toda aquela bobagem repetida mil vezes, a fumça. Tudo como ele já vira em todo o lugar, do jeito que ouvira.
De cabeça, calculava quanto seria a conta a pagar pelo kilo de hoje. Quantos gramas seriam, $1,5 cada cem gramas. Pagaria com umas duas notas e tres moedas reservadas desde cedo no troco do tal café preto.
Ouviu, então, alguém declamando Drummond, como sempre faziam os chatos alí na região. Ele buscou saber quem seria. Era alguém qualquer do outro lado da mesma calçada.
Por detrás da nuca ouviu uma bozina desesperada. BAM! Foi atropelado por um carro preto que parou logo em seguida. O motorista desceu, "está tudo bem?"
Ele se levantou, pegou as moedas do chão e seguiu em direção ao kilo.
Amanhã seria diferente: pagaria o café com moedas, assim não sobra troco.