sábado, 26 de abril de 2008

A cidade não pára, a cidade só cresce

Das noites não dormidas:

É interessante notar que sempre nas fotos noturnas de Sampa parece que está amanhecendo.
É interessante notar que a olho nú o céu de Sampa à noite é vermelho.
É interessante notar que as pessoas precisam de óculos escuros pela manhã.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Falando para o computador

Das insônias noturnas e dos posts anteriores:

Quando penso em blues, na hora me vem à cabeça um sax. Um sax bem legal. O sax me lembra um filme do Jim Jarmusch, "Permanent Vacation" em que um cara tocava sax sozinho. Também me lembra um capítulo antigo dos "Simpsons" em que Lisa encontra um cara que toca sax sozinho.
Quando penso em "sozinho" logo me vem uma vontade de não ficar sozinho. Não por tempo demais. E uma das formas de não se ficar sozinho é fazer algum barulho agradável, tipo um blues. Ou ainda, pra não ficar sozinho a gente pode sair por aí falando com as pessoas e contando coisas para elas.
Quando penso em "sacadinhas engraçadas" geralmente acabo rindo sozinho.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

4'33''

Por favor, desligue seu mp3 para ler este post.
É sério.

Dos posts anteriores e dos queridos Ipod:
Se você realmente desligou seu mp3 para ler este post já deve estar sabendo do que estou falando.
Se você consegue ouvir o cooler do seu pc, já deve ter percebido do que eu quero falar aqui.
A idéia é o medo que o silêncio provoca.
A idéia é o medo de começar a pensar nas coisas.
A idéia é fazer coçar a vontade de perguntar "e agora, o que é que eu devo fazer?".
A idéia é ser um espelho.















4'33''

Não há mais circos como antigamente

Das propagandas de tv:

Tenho uma vontade imensa de dar um soco na cara daquela mulher da propaganda do Circo do Soléi "Alegria".
Ela aparece por detrás das cortinas, "Alegriiiiiiia" e SOC! Morre!
Um soco só.

Se eu fosse um grande círculo

Seria vazio no meio.

Dos posts anteriores:

Não consigo separar as coisas. Fui tomado de uma totalidade que não consigo me livrar.
É difícil falar do que é preciso falar. As coisas não são separadas, nós as separamos para entender melhor. Isso é coisa que a gente aprende no colégio. Separar, separar, separar.
Nessa época de provas, então, o ódio fica ainda maior. Como posso falar só de X em um texto? Orra, alguns professores, sabendo disso, já entram dizendo que sabem que as provas são um bobagem, mas o querido MEC precisa delas. Então o critério usado é, quanto mais você reproduzir os textos lidos, melhor pra você e o MEC fica feliz. E a gente não fala de nada, não explica nada, não avança no raciocínio, que é o que deveria aontecer no meio acadêmico.
A tal da Sorbonne, até um tempo atrás não aceitava filmes como forma de estudo. Jean Rouch se fudeu com a Sorbonne no começo, mas tenho certeza que ele estava bem mais feliz fazendo os filmes dele "pra ninguém".
Difícil é se expressar direito nessa forma caótica do todo. O Niti (Nietzche) teve que escrever zigbilhões de livros pra que alguém conseguisse entender o que ele dizia. O tal do Adorno parece mais um semi-analfabeto nas traduções do alemão que temos por aqui. Tem esses caras que "recortam a realidade" pra poder falar dela, mas ainda acho que eles não consegum recortar muito bem, justamente porque não acreditam que X é separado de Y.
Agora, quanto ao círculo do começo, você é quem sabe o que eu quis dizer.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

"The Ecstasy of Gold"

Da sétima arte e de posts anteirores:

Ainda não tive coragem para assistir "Tropa de Elite". Já vi, por acidente, em um DVD pirata, o final, com o negão bateno no carinha na passeata pela paz, o garoto levando uma vassoura no rabo e o bandido levando tiro na cara, só de zueira.
Se você sentiu algum tipo de felicidade com essa descrição ao lembrar do filme, então pode parar de ler este post ou leia com muito cuidado.
Tenho tido muito medo. Nesses dias assisti a uma videoarte em que as cenas de violência do filme "Tropa" eram repetidas durante cinco minutos, com uma montagem da música "parapapá". Tenho tido muito medo com a aceitação da violência e com a forma como as pessoas se identicifam com o Bope do filme e principalmente com o personagem de Wagner Moura. Tenho tido muito medo da forma como a violência tem se mostrado em filmes. Afinal, os filmes são uma imagem da sociedade e, em uma sociedade em que quanto mais sangue, melhor, só nos resta comprar os coletes a prova de balas.
Claro que houve as guerras mundias, e elas foram um tremendo choque, mas estive pensando nas representações da violência por parte do cinema.
Os filmes de gânster da década de 30 eram violentos, mas não mostravam sangue para todo o lado, ainda que as balas rolassem soltas.
Alan Resnais em "Noite e Neblina" (1955) é eficientemente violento mas seu intuito é justamente criar o choque quanto a violência praticada nos campos de concentração da segunda guerra. Sua mensagem é bem clara, que aquilo não se repita. Assim como em "Hiroshia meu amor" (1959), a violência raticada contra a cidade e contra os personagens e contra toda a humanidade é mostrada para que aquilo não se repita.
Filmes como "Por um punhado de dólares" (1964) já começam a mostrar os pistoleiros e as terras sem lei. Clint Eastwood é o herói desses filmes de "Western Spaguetti" em que, para cada tíro cai um homem. Contudo não há sangue na tela e, nos filmes menos comercias, somente os vilões mais odiosos é que atiram em qualquer pessoa. A morte ainda é alegorizada. O herói é aquele que pensa antes de atirar e sabe onde está atirando.
"First Blood" (1982), também conhecido como Rambo I, ao contrário do que muitos pensam (e pensam por ter visto apenas os "Rambo" 2, 3 e 4) é um filme sobre a violência da guerra do Vietnã sobre aqueles que form combater sob os ideais enfiados em suas cabeças. John J. Rambo, ao contrário do que muitos pensam, mata apenas uma pessoa nesse filme, e ela é morta por acidente, ainda que seja um dos perseguidores do Rambo. John Rambo é preso ao final do filme, o herói é preso ao final do filme. Tamvez por essa razão o personagem foi subvertido nas segquencias de Rambo e somente a partir de então ele tenha ganhado o gosto do público. (meu, tenho muito a falar ainda, mas o espaço é curto).
Pulei 20 anos e cheguei em "Tropa de Elite" (2007). Wagner Moura e seus colegas de trabalho são os assassinos. Os assassinos convencionais são assassinos. As cenas de violência servem como um "Dois minutos de ódio" (George Orwell, livro "1984") . É uma sessão de cinema para todos poderem descarregar seus ódios sobre a tela, sobre a cidade, sobre o ônibus caro, sobre os pedreiros da obra ao lado, sobre o time do coração (que tb é uma especie de "Dois minutos"), sobre os peobres da rua pedindo grana, sobre TUDO. Em uma sequencia de sossego, adrenalina, sossego, adrenalina, que, para funcionar tem que mostrar um cara sendo queimado vivo, cheio de sons da pós produção para dar mais "corpo" à cena ou ainda gente apanhando na cara (plot keywords no www.imdb.com = slap in the face !!!), com muito sangue, sujeira, pós produção. Só assim o filme consegue tocar as pessoas. E as pessoas saem tocadas. Elas querem ser o Capitão Nascimento.
É disso que eu tenho muito medo.

"Carlos, Lucia, Chico e Tiago"

Dos posts anteriores e músicas do Milton Nascimento surge mais texto:

Esta noite tive um sonho.
Morava na minha antiga casa, no interior de São Paulo. Era noite e chovia.
Ouvi uns barulhos no corredor que passava pelo lado de fora da casa, ao lado das janelas dos quartos. Assustado, eu não tinha mais que 16 anos, fui até o quarto da minha mãe.
Ela estava muito calma e me disse "pode ser algo lá fora".
Fui até a janela e abri. Do lado de fora estavam dois muleques simplórios tentando entrar pela janela do quarto ao lado do que estávamos. Fiquei de fato assustado com essa cena. Um dos muleques, ao perceber que havia sido descoberto disparou uma vez em minha direção. Não acertou.
Fechei rapidamente a janela e corri para minha mãe, para pedir que ela me revelasse onde meu pai escondia sua arma. Ela estava muito calma e me disse que não era necessário isso tudo e, portanto, não iria dizer onde estava a tal arma.
Mas insisti firmemente, era preciso se defender desses muleques. Eles iriam entrar em casa e criariam muito terror entre nós. Eles estavam armados! Minha mãe continuava muito calma.
Ela enfim cedeu e me disse onde estava a arma. Estava escondida sobre o batente da porta, um local onde ninguém jamais olharia. Era uma chave de fenda muito comprida.
Apaguei as luzes da casa e esperei. Eles abriram a porta da cozinha e entraram. Eles revistavam cuidadosamente cada cômodo da casa. Eu fiquei atrás da porta do quarto, esperando que passassem.
Um deles entrou no banheiro, foi a deixa. Perfurei as costas do muleque com a chave de fenda. Havia muito sangue, e ele não conseguia se mexer, apenas tremia e seus olhos estavam arregalados, tentando descobrir o que acontecera.
O segundo vinha pelo corredor, cuidadoso e muito devagar. Sai do banheiro e já fui em direção a este. Ele também tinha uma chave de fenda, mais curta que a minha. Como se fossem espadas, retirei sua chave de fenda do caminha e perfurei o muleque no seu lado direito do peito. Sangrou muito também, mas ele não caiu. Perfurei o muleque mais duas vezes e ele caiu. Havia muito sangue. Eu estava sozinho na casa e chovia muito.
Resolvi ligar para a polícia mas minhas tentativas davam errado por muitos motivos.
Ainda no sonho, comecei a pensar e percebi a razão pela qual minha mãe estava tão calma:
Os muleques nada mais eram do que ladroezinhos, criados nesse mundo em que vivemos em que as pessoas preferem roubar a tentar acabar com o dineiro de uma vez e praticar um certo "sossego" na vida de todos. Eles eram as pessoas que não conseguem ver um lugar diferente, para eles o mundo já está dado, a verdade sempre foi verdade. Mas eles não sabiam muito bem o que faziam, eles apenas faziam.
As idéias de minha mãe eram contra a violência. Sendo eles o que eles eram, o que acabei de dizer acima, eles apenas entrariam em casa e levariam os bens materiais, depois iriam embora. Não havia problema em eles levarem tudo, pensava minha mãe. Eles também estavam assustados com tudo aquilo.
Mas eu queria fazer a justiça, queria proteger as minhas coisas, a minha família. Mas fiz nos mesmos moldes que os muleques usaram ao assaltar minha casa. Usei da violência, uma chave de fenda, eles tremiam mas não tinham como se mover, eles estavam assustados, eu estava assustado. A gente só queria acumular nossos bens materiais, pensando que isso iria preservar nossas famílias (ao meu ver, os muleques roubavam para ter como sustentar um possível família).
É isso. Sonhei esse monte de coisas. As vezes eu soho e fico inválido por dias. É bom se olhar no espelho de vez em quando.

sábado, 12 de abril de 2008

Sem muita coisa

Dos posts anteriores:

É incrível que de tempos em tempos sou pego por uma vontade imensa de fazer alguma coisa. Fazer alguma coisa de verdade. Grande. Fudida. Necessária.
Faz algum sentido.
Mas então me lembro que é tudo pelo dinheiro.
Fode minha vida toda vez que penso nisso.
Nem coisas pequeneas coneguem ser feitas sem grana. Mentira, algumas coisas pequenas se fazem sem grana. Mas são poucas.
Ainda que eu pense que tudo o que fazemos na vida, qualquer coisa, seja sempre um algo "pra mim", não vejo nada de mau nisso. Na porra do "tudo pelo dinheiro" eu vejo muita merda.

Engraçado que não era disso que eu vim falar hoje...