quarta-feira, 28 de agosto de 2013

- Eu desisto fácil demais...
- Quê?
- ...nada
De que serve a arte?
Inútil paisagem

domingo, 25 de agosto de 2013

Haja como se você soubesse o que está fazendo
E será visto como se fosse um cara muito foda.

sábado, 24 de agosto de 2013

Daria uma frase bem besta, se estivesse no Facebook:
Que o medo de perder é maior que a vontade de ganhar.

Aí que a gente vira mesmo pedra.
Melhores amigos são únicos, mas não são nossos únicos amigos
Contudo, precisaria todo um mosaico de gente amiga
Pra suprir a falta da melhor companhia.

A falta que essa companhia nos faz é uma saudade única e apertada
Que as outras pessoas nunca vão entender.
Quando me pedem para esperar, eu acabo esperando
(os românticos sobrevivem um pouco apenas de idéias)
Mas quando me pediram pra sair, tive que sair, por respeito
(que os românticos tendem a respeitar mais os outros que a si mesmo)

Agora você me diz que pode me esperar
E coloca sob a minha responsabilidade uma decisão sua
A decisão de me apagar.

5 Minutos

Nem cinco minutos guardados
Dentro de cigarros, cafés, pausas breves...

Pausas, com o tempo, é o que mais queremos pra cabeça ficar no lugar
Inspirações e expirações calmas aquietam as mãos e as fugas
Que o coração não pode ser mais do que músculo durante uma fuga

As pausas são sempre mais breves do imaginamos
A princípio nem vi pausa alguma, imaginei que era mesmo fim.
Tratei disso como se fosse uma pausa eterna, algo que iria voltar um dia, mas depois de mim.

Um dia acabou-se a pausa, que na verdade foi do tamanho de um café expresso
E forte também, deixou todo mundo acordado pelo resto da noite. Eu fiquei acordado um tempão.

Agora, cinco minutos guardados
Pra pensar em paz
São as pausas breves que consigo no meio de tanta coisa
A mente girando igual ventilador
E o teu relógio pedindo pra acelerar, apressar todos os passos
E eu no meio da rua


quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Quando perguntarem qual meu último pedido
Quero jogado de um avião pra cair no mar
O mais alto que for possível
Porque meu último pedido seria sentir um pouco de vida
Nem que fosse pela última vez

(pensei nisso assistindo ao filme "A view to a Kill", numa cena em que o vilão do filme atira um personagem qualquer para fora de um avião. Ele vai caindo, caindo até chegar no mar)

sexta-feira, 9 de agosto de 2013


Texto de Contardo Calligaris viculado pelo jornal Folha de São Paulo no dia 08/08/2013


PALAVRAS DE AMOR
Os sentimentos funcionam como picadas de mosquito, que coçamos e recoçamos até que se tornem feridas infectadas e, às vezes, septicemias generalizadas (quem sabe fatais). Salvo um exercício difícil de autocontrole, qualquer picada pode adquirir uma relevância desmedida: a gente tende a se coçar muito além da conta porque descobre que se coçar não é um alívio, mas um prazer autônomo em si.
Por isso mesmo, em geral, não confio nos sentimentos -nem nos meus, nem nos dos outros. Não é que eu supunha que os humanos mintam quando amam, odeiam ou se desesperam no luto. Nada disso.
Apenas verifico que os sentimentos, em geral, são condições autoinduzidas: transtornos ou desvios produzidos pelos próprios indivíduos, que, se não procuram sarnas para se coçar (como diz o ditado), no mínimo adoram coçar as sarnas que eles têm. Detalhe: coçando, aumenta o prurido, assim como aumentam a vontade e o prazer de se coçar.
Tomemos o exemplo do amor. Eu encontro, conheço ou vislumbro de longe alguém que preenche algumas condições básicas para que eu goste dela. Sussurrando entre quatro paredes ou gritando em praça pública, anotando no meu diário ou escrevendo para grandes editoras, passo a encher o ar ou as páginas com as descrições da beleza inigualável de minha amada e com as declarações hiperbólicas de meu sentimento.
Claro, minha prosa ou poesia poderão, quem sabe, conquistar meu objeto de amor, mas esse é um efeito colateral. O efeito mais importante (e esperado) de minhas palavras de amor não é tanto o de seduzir o objeto de meus sonhos, mas o de eu me apaixonar cada vez mais. Pois a intensidade do meu amor será diretamente proporcional à insistência e virulência de minhas declarações.
Em linguística, chamamos performativas aquelas expressões que, ao serem proferidas, constituem o fato do qual elas falam. Exemplo clássico: um chefe de Estado dizendo "Declaro a guerra" -essa frase é a própria declaração de guerra.
Dizer que sou apaixonado, que odeio ou que me desespero no luto talvez não sejam propriamente performativos. Mas se trata, no mínimo, de semiperformativos, ou seja, talvez os sentimentos existam antes de serem declarados, mas eles só crescem e tomam conta da gente na hora de serem ditos, descritos e contados -na hora de sua declaração, pública ou privada.
Há três razões pelas quais o amor é absolutamente indissociável da literatura amorosa. A primeira é que a gente aprende a amar e a declarar o amor pela literatura. A segunda é que o amor se tornou relevante em nossa vida à força de ser descrito e idealizado pela literatura. A terceira é que o amor, como sentimento, é um efeito das palavras que o expressam: a literatura nos instiga a amar tanto quanto nossas próprias declarações amorosas.
Acabo de terminar a prazerosa leitura de "Como os Franceses Inventaram o Amor" (editora Prumo). Nele, Marilyn Yalom percorre a literatura francesa e revela que ela é um repertório completo do amor.
A coisa começa com o triângulo amoroso, que não é um acidente ou um imprevisto do amor; ao contrário, o amor começa, mil anos atrás, com o triângulo amoroso. Tristão escolta Isolda, a futura esposa de seu tio, e se apaixona por ela. Lancelote venera seu rei Artur, mas se apaixona pela rainha. E, em geral, os poetas do amor cortês amam damas casadas (e frequentemente fiéis a seus senhores, aliás).
A França é, para Yalom, a pátria do amor. Não só pela riqueza de sua literatura, mas justamente porque, na cultura francesa, do amor cortês do século 12 até as conversas das preciosas nos salões parisienses do século 17 (que Molière ridicularizava, mas também admirava), amar é, antes de mais nada, uma arte de dizer, de ser efeito das próprias palavras que usamos ao declarar e descrever nosso sentimento.
Alguns acham que falta amor em sua vida. Como Emma Bovary ou Anna Kariênina (extraordinária a tradução de Rubens Figueiredo, pela Cosac Naify), temem que, sem amor, sua vida nunca chegue a ter a dignidade de um romance. A eles, recomendo paciência: os tempos mudam, e talvez se afirme hoje, aos poucos, uma retórica nova, menos sentimental, capaz de dar valor literário a uma vida sem amores e paixões.
Outros se queixam dos estragos que o excesso de amor faz em sua vida. Aqui a cura é simples: eles não vão acreditar, mas basta se calar um pouco, assim como é suficiente não se coçar para que as picadas de mosquito parem de incomodar.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Caixa postal

A cada telefonema não atendido
Nenhum recado

Por isso acho que o recado já está dado.
Virou lembrança
Se fez lembrança
Pediu, argumentou, impôs que fosse lembrança

Um dia, só você sabe me dizer, resolveu lembrar de tudo o que já passou (eu também fico feliz de me lembrar de tudo)
E a lembrança tomou forma e peso.
Muito peso.
E foi afundando doloridamente