sexta-feira, 27 de março de 2009

The Chaminé

Pensando em "The Wall" do Pink Floyd e no "O Abismo" do Baudelaire acredito que eu deva ter construído, na realidade, ao meu redor, uma grande chaminé.

A chaminé é um grande problema, quando você a constrói ao seu redor. Porque é como uma parede E um abismo ao mesmo tempo. Quando se está lá no fundo da chaminé não é possível quebrar o muro, pois isso vai fazer com que a chaminé caia inteirinha na tua cabeça! Logo, a solução é escalar a tal chaminé, se você quiser sair de lá.

Vamos ser sinceros, viver no fundo de uma chaminé é horrível, e por isso a gente quer sair de lá. Ou "daqui".

Pois então, falando em escalar a chaminé, me lembro daquela menina de "O Chamado". E falando em contruir a própria prisão me lembro da música "Gotta knock a little harder", da Yoko Kanno para o filme de animação "Cowboy Bebop".

terça-feira, 17 de março de 2009

A loucura das ruas

Num dia desses, voltando para casa, estava passando perto de uma farmácia. Um dos carros que estavam parados no estacionamento acendeu as luzes trazeiras, bom, com certeza ele estava de partida. Logo já fui diminuindo o passo assim que vi que ao lado do carro estava uma velhinha, provavelmente esperando o carro sair do aperto do estacionamento para que ela pudesse subir no carro confortavelmente.

Pois não, assim que cheguei mais perto, e o carro já estava saindo, a velhinha levantou um dos braços na direção do carro, para que ele parasse e, com a outra mão, fazia sinal para que eu passasse por detrás do carro. Exatamente como um manobrista faria. Aquela mulher, portanto, era uma manobrista, melhor, uma auto-manobrista já que ela era uma senhora de rua que com certeza não foi contratada para estar alí.

Então passei por detrás do carro, com o passo apertado pois a motorista do carro deveria estar muito brava, assim que a velha levantou a mão a motorista teve que frear bruscamente. E agradeci a velha. Ela nem ouviu pois agora seus movimentos eram em favor da passagem do carro. Frenéticos.

Aquela velha era uma louquinha. Mas somos todos loucos, é o que pensei pelo resto do caminho.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Pink e o pecado

São Tomás de Aquino definiu muito bem o que seria um dos pecados capitais, a preguiça. Para ele a preguiça não é a falta de vontade de fazer as coisas, mas algo muito mais interessante. Preguiça é deixar de lado as obrigações. Ele não está falando de um mundo do trabalho moderno, modernindade já sedimentada, ele está falando das obrigações enquanto virtudes, responsabilidades; estas, caminho para a ascenção do homem.

Pois bem, a preguiça, portanto, é o grande mal das pessoas ao meu redor, das que ouço falar e de mim mesmo. Todos não querem cumprir com as suas responsabilidades pois mais ou menos nem sabemos mais quais são. E este é um ponto angustiantemente interessante.

A moral, o certo e o errado, já morreu há muito tempo, de forma que o que impera é quase uma luta pela sobrevivência muito próxima das lutas pré-históricas. Nota-se um esvaziamento de sentido em tudo, nos levando a acreditar que a saída para o mundo é justamente se atirar de cabeça nele e fazer parte dessa grande massa de luzes e falsas felicidades. É quase como as músicas "In the Flesh" do álbum do Pink Floyd "The Wall" contam: "Luzes! Efeitos Sonoros! Ação!", vamos fazer parte do show, brilhante e colorido, onde todos estão felizes e cantantes, porém, sem você perceber, tudo isso é uma grande montagem para que você fique admirado com o show todo e não perceba que por trás de tudo, a estrela do show, Pink, está no hotel, drogado e completamente desanimado, no sentido de "anima" = vida. A grande sacada do "The Wall" são os efeitos inseridos além das música. "Luzes! Efeitos! Ação!!!".

Mais que "obrigação", a palavra "responsabilidade" é a melhor para ilustrar o significado de "preguiça". Mas existe ainda uma saída para quem ler isso e, por acaso, se sentir culpado: somente é pecado quando a pessoa sabe que aquilo que ela está fazendo é um pecado.

Tarde demais, agora já sabemos. "Run Like Hell", já que falamos em "The Wall".

domingo, 15 de março de 2009

"Nem vá dormir como pedra e se esquecer o que foi feito de nós."

Enclausurado, comia biscoitos. Não porque aquilo era bom ou agradável mas era tudo o que tinha para fazer. Sentia cada parte do biscoito a cada mastigação: sal, açúcar, chocolate, farinha. Tudo bem industrial, assim como o resto de sua vida.

Uma vez que sua mente estava altamente ocupada por milhares de imagens que iam e vinham sem o seu controle, sequer sem que ele quisesse ou ainda se mexesse para tal, não havia nada que seu grande corpo imóvel pudesse fazer, a não ser os biscoitos.

As imagens eram impossíveis de mastigar, vinham como pedras frenéticas que ainda que se deixassem pegar não seria possível sequer roe-la. E também não havia nada mais que não fossem ele, as imagens e o biscoito. Ele era o centro de tudo aquilo ao seu redor, círculos dentro de círculos em um raio infinito com ele bem no meio.

Aliás, foi quando ele se deu conta disso que ele sossegou, "eu sou o umbigo do mundo", riu vitorioso e se sentou alí mesmo.

Esta lá até hoje, comendo os biscoitos.