Dos posts do ano passado:
Mas é claro! Vai ser desse jeito, todos os meus filhos terão o mesmo nome!!
Quando chamar UM, virão TODOS!
Ou, se forem espertos, não virá NENHUM.
Brain-storm noturno, as vezes sob o efeito de álcool.
Dos posts do ano passado:
Mas é claro! Vai ser desse jeito, todos os meus filhos terão o mesmo nome!!
Quando chamar UM, virão TODOS!
Ou, se forem espertos, não virá NENHUM.
Dos posts anteriores:
Acoh que a gente da cidade grande passa a vida tentando sobreviver. Quando abro a janela do quarto (nos momentos em que posso sair de perto do computador que é uma necessidade doentia de vício e comunicação) vejo bem em frente um apartamento que fica com a TV ligada na Rede Globo o dia inteiro. Num primeiro momento tive pena dessa pessoa que não sai da frente da televisão, mas agora posso perceber que ela encontrou uma forma de fazer a vida passar mais rápido.
Assim como os meus jogos (queridos jogos eletrônicos!) a gente precisa encontrar uma besteira não natural para poder aturar a vida de uma cidade grande regida pela eficiência. Sair na rua é um problema para quem não tem grana sobrando, e ficar em casa nos castra toda a vontade de viver. Portanto, o jogo, ou a TV, ou o próprio trabalho eficiente garantem que o nosso sofrimento com a falta de uma vida de verdade seja colocado de lado por um instante para dar lugar ao prazer momentâneo de uma cerveja quente ou uma nova versão de Silent Hill.
Eu acho que esse tipo de vida é válido para fazer valer o nosso lado mais cruel e selvagem, vindo das raízes primitivas do ser humano ou da imaginação fértil filme-televisiva. É nesse tipo de lugar que é posto em prova a nossa vontade de viver, mas não a vontade "propaganda-de-fim-de-ano", com promessas de uma ano melhor, paz e harmonia. Não existe harmonia em um lugar completamente construído e levantado sobre bases não naturais de um trabalho que, no fundo, não tem muito sentido para a nossa vida natural, aquela de quem nasce, vive e morre (pra sempre).
Nesse lugar do qual eu falo, a prova da nossa vontatde de viver vem da nossa própria vontade de se degladiar, de dominar completamente todos ao seu redor para poder, finalmente, ter algum sossego na vida. Veja: como é possível manter a calma e o espírito fraterno em um local no qual as redes de relacinamentos terceirizantes é tão ramificada que não se sabe nem quem talvez possa te ajudar em algo. Nesse lugar não há espaço para se fazer nada sozinho, salvo a violência (com uma abrangência da palavra muito maior do que a simples negatividade). Como um exemplo, preciso de pessoas interessantes para me sentir querido, útil e aprender o que quero aprender. Mas, para isso, estou preso à internet ou telefone, pois a cidade é grande demais e todos estamos muito ocupados para falarmos pessoalmente, ou muito apressados para mandarmos cartas e recados. Por sua vez, esses serviços eletronicos são prestados por empresas que, visando a produtividade e o lucro, terceirizam TUDO o que for possível para não terem dor de cabeça. Pois bem, o contato primeiro, pessoa-eu, está completamente comprometido por uma série de fatores externos a nós e que não são naturais. Enquanto tendo me "conectar" com o "mundo" através de uma conta de internet, a empresa terceirizada impede que meu cadastro seja efetivado pois outra empresa terceirizada, contratada pela mesma empresa-chefe, tem problemas com outro assinante do serviço que, por sua vez, não consegue sanar seus problemas em razão de mil outras terceirizações.
Pois bem, quando perguntei para a telefonista o que poderia ser feito a respeito de tudo isso, a resposta foi um desconto na mensalidade, por três meses, no valor total de R$50,00. Sendo assim, o problema real deveria ser resolvido com uma saída abstrata e sem sentido. Sete dias de dpr de cabeça, 5 protocolos anotas e mais de três horas com o ouvido no telefone ouvindo "aguarde um momento" não valem R$50,oo. R$50,00 não pagam o ódio.
Todas aquelas pessoas com quem conversei nessas 3 horas não interessam em nada para mim, assim como eu não sou nada para a pessoa do apartamento da frente que assiste a TV Globo o dia todo. Naturalmente, minha vontade é a de destruir (fisicamente e pontualmente) todo esse sistema que me impede de entrar em contato com quem eu preciso, em um serviço em que estou completamente regular.
Deixar de dormir ou ir ao médico para "voltar ao normal" são saídas um tanto imbecís (não do ponto de vista social) para uma coisa que é a vontade de viver, a vontade natural, que faz com que eu queira eliminar tudo o que há de ruim atrapalhando o meu caminho.
Dos posts anteriores e afinações feitas de ouvido:
Gosto das bandas e músicas de rock antigos porque eles conseguem me passar alguma coisa amais do que a simples música. Não são só essas bandas que me passam isso, mas são essas bandas que, pela sua simplicidade que tenta uma fuga daquilo que não é a liberdade ou algo real, mais real que o smulacro, deixam com que eu possa tocá-las no violão (ou numa guitarra, se eu a tiver em mãos).
Acordes relativamente fáceis e repetitivos são a base primeira para essas músicas, mas a intenção delas e o trabalho em conjunto é que garantem essa liberdade ou real de que falo.
E isso eu percebi porque, tentando tocar sozinho, no meu quarto, as músicas do Doors, Hendrix, Floyd e Jefferson Airplane e tantos outros, comecei a observar que essas músicas não servem pra muita coisa se eu estiver sozinho.
Quero dizer, se essas músicas, além de sons também são uma grande e bela mensagem falta-me para quem (ou com quem) falar. "Do you want somebody to love" pro meu armário não faz muito sentido. O computador aqui só entende escrita, não ouve nada.
Acho que não existe muito de liberdade não se estando em conjunto. E, portanto, é muito difícil haver música também.
Todo esse tesão de tentar viver e fazer alguma coisa legal vira um grande aborto quando se está sozinho.
Acho que solidão é melhor pra pensar, e conjunto é melhor pra fazer.
Dos posts anteriores e pensamentos no ônibus:
"A sua vitória significa a derrota de seu aliado"
Dos filmes anteriores:
Não sei dizer até que ponto Ennio Morricone é um músico fantástico enquanto compositor e maestro de música para cinema ou se é um mero (DUVIDO!!) acaso que diretores italianos com seus grandes filmes utilizem a música do cara em suas belas películas. Mas a verdade é que, desde que assisti pela primeira vez "Cinema Paradizo" não consegui conter as lágrimas durante a narrativa simples (DUVIDO!!) do garoto Toto. Aquilo tudo se passa na memória de um já velho Toto o que dá liberdade para a fantasia sobre o real: até um punhado de terra arenosa e vermelha pode ser bela na lembrança de alguém. Morricone consegue criar um significado que segue em paralelo com a imagem, mas com seu grau de autonomia que faz com que a música também nos conte quem é Toto, quem são as pessoas ao seu redor, como é sua cidade e, acima de tudo, o quanto tudo isso representa para o personagem principal.
Contudo, não apenas no filme de Giuseppe Tornatore, um grande diretor com uma grande narrativa imagética, mas também nos filmes de Sergio Leone, não consigo conter o nó na garganta criado pela beleza estética da junção imagem/música. Em uma cena como "Era uma vez no Oeste", na qual a personagem segue pela primeira vez para "Água Doce" e vê-se a imensidão do deserto e aconstrução da ferrovia que, trazendo os novos tempos, irá acabar de vez com o mundo do Velho Oeste, me emociono com a beleza daquilo tudo - seguro as lágrimas mais uma vez. Em "Era uma vez na América" acontece a mesma coisa, nem me dou conta de que é Robert DeNiro que está na tela no papel de "Noodles" e não passo os planos tentando descobrir se aquilo tudo é um grande cenário à moda italiana ou é uma locação real. Quando as crianças atravessam a rua à distãncia, todos juntos, quando ouço o tema de Deborah, não consigo pensar em outra coisa que não seja ainsignificancia da vida peranta a arte. - Mas é essa insignificancia, criadora da própria arte, que mareia meus olhos.
Não sei qual a "fórmula" de Morricone em suas músicas, não estudei música tão a fundo para entender o porque o violino entrou em tal parte ou ficou mudo em outras, mas, como qualquer mortal, consigo sentir pelo ouvido tudo isso misturado. É incrível como as passagens mais fortes, que apertam no coração enquanto assisto, são aquelas de certa forma simples, que vão num esquema II - V e terminam num acorde com sétima maior tão lindo quanto inesperado.
Morricone sabe como usar o acorde de sétima maior. E, para alguém como eu que aprendeu no Jazz e Blues, é difícil comseguir se segurar nesse tipo de acorde - mas isso é outra história.
Acho interessante pensar que quando meu filho nascer ele terá que aprender quase todas as línguas do mundo. No futuro próximo as pessoas terão que aprender a falar todas as línguas porque o mundo vai ser ainda mais "global", no sentido de que todos estarão em constante interrelação. Acredito que não haverá uma única língua como o Esperanto ou ainda o Inglês (EUA), porque acho que muitos países e povos vão preferir manter suas tradições regionais e vão falar suas línguas com seu próprio povo. Por uma questão de respeito, em uma conversa, será mantida a língua daquela pessoa (ou povo) de acordo com um bom-senso imediato e utilizável apenas naquele momento. As pessoas também serão muito mais inteligentes pois vão perceber que não são o umbigo do mundo e que existe uma infinidade de outras coisas que podem realmente nos completar.
Contudo, infelizmente hoje em dia a necessidade de se aprender todas as línguas do mundo é pra não ser passado para trás pelo mercado especulativo. A educação é uma coisa funcional que tem um objetivo claro e não deve sair dos trilhos. Tanto o é que, para se ganhar tempo (e dinheiro) algumas pessoas abrem mão de seu passado histórico e incorporam palavras, geralmente norte americanas, para não ter que aprender ou traduzir as coisas. Com um mundo completamente unipolar e uni-tudo-e-qualquer-coisa, não vai ter porque escrever qualquer coisa que não seja o mesmo.
E assim esse meu blog vai prosperar, finalmente.
Burro. É assim que é o tal cara que faz a "sorte do dia".
Como assim "apenas"?! Se elas não são apenas boas ou más, como elas são APENAS outras duas coisas? Que, no fim das contas, são bom (encantadoras) e mau (monótonas).
Para essa anta, encantadoras e monótonas são palavras (e definições) antagônicas.
O inferno deve ser esse espertinho falando sem parar na nossa orelha.
Minha vida é uma marmita.
Hoje eu pedi bife.
Quando abri, estavam lá organizadamente o arroz, o feijão, a batata e o bife.
Posso trocar a batata por legumes, e o feijão por mais batata.
Já vi pedirem só o bife e batata: "pode ser?", "pode."
Nunca vi o chapeiro, o dono do restaurante, a plantação de arroz, a pedra de bauxita.
Mas sei como eles funcionam.
Só vendem as marmitas que constam no cardápio.
Eles chegam por debaixo da porta.
Marmita é bem mais confortável.
Há um tempo tive uma vontade muito grande de sair tocando música por aí. A intenção, um tanto infantil, era animar as pessoas por aí, com músicas que elas gostassem, e também com algumas que mostrassem o mundo pra elas. Quando não estou atento, fico deslumbrado com as letras e ritmos das músicas da década de 60 e 70, de vários países diferentes, pois todas falam de liberdade, e de alguma coisa a mais do ser humano que o completa de verdade, ou pelo menos passam essa idéia.
Mas quando resolvo tocar essas mesmas músicas hoje, me lembro que quase tudo é mercadoria, e algumas pessoas não percebem isso, e resolvem ouvir música sem motivo, só pra completar algum espaço no vazio do dia-a-dia, a música funcional. E, se por acaso eu chegar a tocar essas músicas por aqui é bem provável que eu faça o papel do Ipod de reproduzir som para ninguém prestar atenção.
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Quando escrevo isso, tento ao máximo não transformar uma tese em algo particular e pequeno. Esse texto pode muito bem ser lido como se eu estivesse lamentando um fato particular, que não afeta mais ninguém além de mim. Proque, no fundo, o problema desse texto pode ser o fato de eu não conseguir me adaptar aos Ipod. Por outro lado, pode parecer um texto depressivo, no qual houve um passado em que os Ipod não domnavam a vida das pessoas, e eu, com esse texto, pretendo resgatar esse passado exatamente como ele foi. Dessa forma, escrever um texto contando exatamente o que quero contar é uma terefa quase impossível, pois a cada período tenho que adicionar outro explicativo.
E o texto fica imenso.
E ninguém vai querer ler.
Eu mesmo não vou querer escrever tanto assim.
E o que acabei de escrever pode ser lido da mesma forma como podem ser lidos o texto do início do post.
Blog é um lance pessoal. Mas me parece ser um lance pessoal para ser visto por todos ou por alguns seletos. Caso se queira fazer algo pessoal secreto, escreve-se um diário, com cadeado e tudo. No blog, o cadeado está aberto pra incitar a curiosidade.
O gostoso dos blogs também é o link que a internet permite. Dá pra passear um tempão nos blogs do pessoal.
Mesmo assim, não entendo porque ninguém visita esse blog aqui. Pelo menos, se visitam, não deixam pistas.
O computador é o único coitado que lê tudo que escrevo.
Ainda no livro do Hagakure:
Na geração do senhor Katsushige havia vassalos que, independentemente de seu posto, eram requisitados para trabalhar para o mestre desde pequenos. Certa vez, quando Shiba Kizaemon fazia esse serviço, o mestre estava cortando suas unhas e disse:
- Jogue isto fora.
Kizaemon pegou as unhas, mas não saiu do lugar, e o mestre perguntou:
- Qual é o problemas?
- Está faltando uma - respondeu Kizaemon.
- Aqui está - disse o mestre, e entregou a unha que havia escondido.
Naquela ocasião ele disse o seguinte:
- Sabe, hoje em dia a moçada só está mais higiênica. Há um tempo atrás, quem queria fazer alguma coisa pra poder se sentir vivo ia procurar alguma droga, essas da psicodelia. Pra ver algumas coisas malucas, ouvir melhor o som de alguém ou, pelo menos, ter alguma sensação de liberdade. Mas daí um cara chegou pra mim e disse 'meu, eu sou quase um Dorian Gray ao contrário'. Ele parecia que tinha uns 60 anos, ma não tinha nem chegado nos 40. Hoje a molecada é bem mais higiênica. Até pra fazer um som as coisas tem que estar perfeitas, tudo limpinho. E você, não usa droga não, né?
- Só experimentei. Mas não é que faz mal, é que é foda ficar guardando dinheiro pra gastar com isso, tá ligado? Já gasto pra caralho com as brejas, já tá bom. Quer dizer, não tá, mas tá bom.
- Você trabalha?
- Ainda não. Eu tava muito querendo arranjar um trampo sério, sabe?
- Tá tão foda assim?
- Tá. Eu queria arranjar uma grana pra poder comprar um PC novo e uns jogos originais. "Fallout 3" é muito bom.
- Computador? Orra, porque você não vai viajar, fazer alguma coisa?
- É que no jogo dá pra fazer o que você quiser, meu. Dá pra dar uns tiros, montar seu carinha, evoluir e tudo. Tem um porre de final diferente, os carinhas reagem diferente. Se eu for viajar, meu, tem que ser corrido pra poder voltar e trabalhar.
Sempre conversavam sobre muitas coisas.
Hoje tive um sonho bem estranho.
Morava na minha antiga casa e, por algum motivo, o céu tinha uma faixa mais azul-escura que o azul claro da tarde. Essa faixa estranha estava acabando com tudo!
Me lembro (quando a gente acorda é muito normal esquecer tudo...) que tudo o que passava por aquela faixa azul-escura dava problema. Me lembro de ter visto um avião perder o controle, depois um navio de ponta cabeça flutuando pelo céu, um satélite caiu no telhado da vizinha, e por aí as coisas vão...
E era muito angustiante que minha mãe não ligava pra nada! Eu ficava mostrando as provas de que algo estava errado, mas ela não estava nem aí.
Num certo momento o céu foi ficando vermelho e começou a cair meteoros e tal. Nem assim ela deu atenção.
Eu acordei, morrendo de sono. E o sonho foi tão interessante e empolgante que eu resolvi dormir e sonhar tudo de novo.
E consegui! Adiconando a isso o fato de que o sonho ganhou uma continuação na qual eu estava subordinado à uma máfia de japoneses que estavam tentando roubar não lembro o que de uma mina de não sei o que lá.
Mas o legal é que esses pesadelos foram bem emocionantes.
Quando falo voltado pra parede, bem perto dela, ouço instantaneamente e com muita clareza a minha própria voz.
Mas não gosto de falar virado pra parede. Ninguém gosta do som da própria voz.
E mais, quando me viro pra parede é que eu me lembro que não tenho nada pra falar.
Sorte de hoje: Estude como se você fosse viver para sempre. Viva como se você fosse morrer amanhã
Certo, odeio essas mensagens de auto-ajuda imbecis que o Orkut adora colocar todo dia. Mas ao invés de só ficar reclamando, vou mostrar o porque de tanto ódio à essa idiotice de auto-ajuda como um todo.
De acordo com a frase, devo estudar como se eu fosse viver pra sempre, ou seja, eu não devo me dedicar muito aos estudos justamente porque terei a eternidade toda pra fazer isso aos poucos. Os deuses no Olimpo eram bem assim, algumas vezes até os homens ou os Titãs conseguiam passar a perna neles. Os mortais têm muito mais necessidade de conhecimento do mundo, senão, é claro, eles morrem. Os deuses, imortais, são mais sussa. Mesmo que eles façam cagadas não existe porque ter medo, ele não vão morrer. Portanto, de acordo com o Orkut, não se dedique aos estudos, coloque na sua cabeça que vc é imortal e vai viver pra sempre, e deixe de fazer o que tem que fazer.
Pois bem, viva como se fosse morrer amanhã, ou seja, estude TUDO o que puder hoje e AGORA. Seguindo a lógica da frase, dos estudo, se você vai morrer amanhã então deve estudar tudo nesse exato momento. É um paradoxo tão grande e imbecil (imbecil porque isso não foi criado com a intenção de ser esse paradoxo) que torna qualquer movimento em qualquer direção impossível.
E isso se repete todos os dias nas auto-ajudas da vida. Isso porque nem vou comentar quando o Orkut resove fazer piadinhas e escrever que o cara que escreve a sorte do dia está doente, ou saiu ou sei lá o que. Puta tentativa fajuta de humanizar o Orkut.
Ainda no livro Hagakure:
De acordo com o que disse o monge budista Kaion, a pessoa se torna cada vez mais orgulhosa se ganha um pouco de esclarecimento, porque imagina conhecer seus próprios limites e pontos fracos. No entanto, é muito difícil conhecer de verdade nossos limites e pontos fracos.
No livro do Hagakure está escrito assim:
A essência da fala está em não falar nada. Se você acha que pode resolver algo sem falar, faça-o sem dizer uma só palavra. Se houver algo que não pode ser solucionado sem o uso da fala, devem ser ditas algumas palavras, de forma concisa, mas compreensível.
Abrir a boca indiscriminadamente traz vergonha, e existem muitas ocasiões em que as pessoas darão as costas a pessoas que falam demais.
Num movimento de implosão quase estúpida tenho tentado destruir tudo o que me aparece pela frente. A sensação de que quase nada aconteceu nos dez últimos anos me faz pensar no quanto não se pode mesmo mudar quando me apoio nos velhos moldes que me apresentaram. Tenho a impressãoque até a flor feia que encontro na rua já foi pisoteada pelos bondes, carros e pedestres. Dez anos ficaram para trás e quase não me lembro de nada que não fosse uma tentativa inocente, imbecíl, de tentar mudar as coisas, colocar mais animação na vida: "Eu gosto tanto de parafuso e prego, e o senhor?". Por favor, coloque mais música, aumente o volume, porque o silêncio é como um espelho que aumenta minha imagem e me expõe de forma grotesca. Não sou sequer mau e com a alma corrompida, ruim por natureza, matador de formigas com os dedos; sou a covardia de quem se entrega à morte sem nem ao menos uma partida de xadrez.
Pensando em "The Wall" do Pink Floyd e no "O Abismo" do Baudelaire acredito que eu deva ter construído, na realidade, ao meu redor, uma grande chaminé.
A chaminé é um grande problema, quando você a constrói ao seu redor. Porque é como uma parede E um abismo ao mesmo tempo. Quando se está lá no fundo da chaminé não é possível quebrar o muro, pois isso vai fazer com que a chaminé caia inteirinha na tua cabeça! Logo, a solução é escalar a tal chaminé, se você quiser sair de lá.
Vamos ser sinceros, viver no fundo de uma chaminé é horrível, e por isso a gente quer sair de lá. Ou "daqui".
Pois então, falando em escalar a chaminé, me lembro daquela menina de "O Chamado". E falando em contruir a própria prisão me lembro da música "Gotta knock a little harder", da Yoko Kanno para o filme de animação "Cowboy Bebop".
Num dia desses, voltando para casa, estava passando perto de uma farmácia. Um dos carros que estavam parados no estacionamento acendeu as luzes trazeiras, bom, com certeza ele estava de partida. Logo já fui diminuindo o passo assim que vi que ao lado do carro estava uma velhinha, provavelmente esperando o carro sair do aperto do estacionamento para que ela pudesse subir no carro confortavelmente.
Pois não, assim que cheguei mais perto, e o carro já estava saindo, a velhinha levantou um dos braços na direção do carro, para que ele parasse e, com a outra mão, fazia sinal para que eu passasse por detrás do carro. Exatamente como um manobrista faria. Aquela mulher, portanto, era uma manobrista, melhor, uma auto-manobrista já que ela era uma senhora de rua que com certeza não foi contratada para estar alí.
Então passei por detrás do carro, com o passo apertado pois a motorista do carro deveria estar muito brava, assim que a velha levantou a mão a motorista teve que frear bruscamente. E agradeci a velha. Ela nem ouviu pois agora seus movimentos eram em favor da passagem do carro. Frenéticos.
Aquela velha era uma louquinha. Mas somos todos loucos, é o que pensei pelo resto do caminho.
São Tomás de Aquino definiu muito bem o que seria um dos pecados capitais, a preguiça. Para ele a preguiça não é a falta de vontade de fazer as coisas, mas algo muito mais interessante. Preguiça é deixar de lado as obrigações. Ele não está falando de um mundo do trabalho moderno, modernindade já sedimentada, ele está falando das obrigações enquanto virtudes, responsabilidades; estas, caminho para a ascenção do homem.
Pois bem, a preguiça, portanto, é o grande mal das pessoas ao meu redor, das que ouço falar e de mim mesmo. Todos não querem cumprir com as suas responsabilidades pois mais ou menos nem sabemos mais quais são. E este é um ponto angustiantemente interessante.
A moral, o certo e o errado, já morreu há muito tempo, de forma que o que impera é quase uma luta pela sobrevivência muito próxima das lutas pré-históricas. Nota-se um esvaziamento de sentido em tudo, nos levando a acreditar que a saída para o mundo é justamente se atirar de cabeça nele e fazer parte dessa grande massa de luzes e falsas felicidades. É quase como as músicas "In the Flesh" do álbum do Pink Floyd "The Wall" contam: "Luzes! Efeitos Sonoros! Ação!", vamos fazer parte do show, brilhante e colorido, onde todos estão felizes e cantantes, porém, sem você perceber, tudo isso é uma grande montagem para que você fique admirado com o show todo e não perceba que por trás de tudo, a estrela do show, Pink, está no hotel, drogado e completamente desanimado, no sentido de "anima" = vida. A grande sacada do "The Wall" são os efeitos inseridos além das música. "Luzes! Efeitos! Ação!!!".
Mais que "obrigação", a palavra "responsabilidade" é a melhor para ilustrar o significado de "preguiça". Mas existe ainda uma saída para quem ler isso e, por acaso, se sentir culpado: somente é pecado quando a pessoa sabe que aquilo que ela está fazendo é um pecado.
Tarde demais, agora já sabemos. "Run Like Hell", já que falamos em "The Wall".
Enclausurado, comia biscoitos. Não porque aquilo era bom ou agradável mas era tudo o que tinha para fazer. Sentia cada parte do biscoito a cada mastigação: sal, açúcar, chocolate, farinha. Tudo bem industrial, assim como o resto de sua vida.
Uma vez que sua mente estava altamente ocupada por milhares de imagens que iam e vinham sem o seu controle, sequer sem que ele quisesse ou ainda se mexesse para tal, não havia nada que seu grande corpo imóvel pudesse fazer, a não ser os biscoitos.
As imagens eram impossíveis de mastigar, vinham como pedras frenéticas que ainda que se deixassem pegar não seria possível sequer roe-la. E também não havia nada mais que não fossem ele, as imagens e o biscoito. Ele era o centro de tudo aquilo ao seu redor, círculos dentro de círculos em um raio infinito com ele bem no meio.
Aliás, foi quando ele se deu conta disso que ele sossegou, "eu sou o umbigo do mundo", riu vitorioso e se sentou alí mesmo.
Esta lá até hoje, comendo os biscoitos.