terça-feira, 5 de outubro de 2010

Mais e mais coisas

OU

(Como arrependimento não é botão de reset - Parte IV)

Então o garoto disse como quem não quer nada "Nossa, que cheiro de bolo" e deu uma bela respirada profunda. Os garotos ao redor, no mesmo momento, também respiraram bem fundo para, logo em seguida gritarem com o primeiro "Caralho, você peidou!". Todos riram.
Eu não respirei fundo. No momento em que ele disse aquilo, primeiro quis me certificar do que é que ele estava falando. Naturalmente não tive vontade de sentir de primeira o cheiro do bolo e por isso esperei para ver ao redor e sentir naquele garoto a verdade daquilo que ele estava falando. Muitos vão pensar que eu era um gatoro esperto e precavido.
Muito pelo contrário, sempre fui alguém que não confia em ninguém. E acredito que isso se deva pelo fato de ser muito medroso, lipinho e sem cicatrizes. Por muito tempo preferi ser arisco às coisas, procurando a mentira ou a verdade por ´trás dos olhares, da voz, das intenções e gestos concretos. Realmente não confiava em ninguém, e isso me acompanhou por muito tempo mesmo.
E é por esse motivo que nas relaçõe mais íntimas sempre tentei manter um distânciamento seguro. Isso é muito triste. Nunca deixei transparecer minhas intenções tanto as boas quanto as ruins, e por isso sinto que enganei a mim mesmo e as pessoas que por ventura confiaram em mim. Mais uma vez, não foi uma mentira, nunca menti para conseguir amigos e amores, mas fui ocultador de verdades.
Puxa, é estranho começar a pensar nessas coisas e querer mudar tudo a partir de agora. Acho que tenho muito tempo sim pra me rearranjar, mas também fico meio arrependido das coisas que posso ter perdido, das experiências verdadeiras que deixei pra trás por puro medo mesmo de me ferrar. Bom, muito da bondade do Mura vem dessa experiência de pessoas ferrando umas às outras, e isso não posso negar.

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