segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Seres bolhudos

Por ter sido um bolhudo eu tenho um pouco de moral pra falar aqui:

Tenho me sentido realmente distante das pessoas nesses dias. Há muito que procuro algumas coisas verdadeiras e que dêem sentido pra rotina da minha vida ordinária. Acordar cedo, fazer tranalhos aqui e alí, terminar um TCC e outras coisinhas são necessárias pra que eu continue vivendo, mas só isso não é nem de perto o suficiente pra preencher todo anseio que tenho de fazer valer esse pequenho espaço de tempo que é a vida. Pois bem, descobri muito cedo que o que me faz perder a sensação de que o tempo é contínuo são as minhas companhias, as pessoas quaisquer que sejam que estão ao redor simplesmente vivendo. Com elas eu fazo coisas junto, aprendo, cresço e, principalmente, consigo me perceber como ser humano, desde os limites do corpo até psicodelismos vitais.
Contudo, o que tenho visto ultimamente é o embolhamento de grande parte dessas pessoas das quais falei. Infelizmente há uma bolha cercando e protegendo essa galera toda de quaisquer estímulos e fenômenos do mundo, o que torna todas as relações mais vazias como uma CocaCola Zero.
Os bolhudos são pessoas que têm um convívio social, saem de casa, cantam, brincam, riem, mas sem se aproximar demais dos outros. Tenho percebido isso primeiro em mim mesmo, pra depois perceber nos outros também. Em um momento de imensa alegria, sinto muita vontade de abraçar as pessoas, tocar, fazer algo que me passe toda aquela energia que a pessoa tem ou teve pra fazer a tal da coisa legal. Só que faço um policiamento tão grande, passo essa vontade por tantos e tantos filtros que ela perde o rítmo do seu momento e passa, fica pra trás. Sinto essas vontades de interação mais física de uma forma bastante ingênua, sem nenhum tipo de intenção que não seja simplesmente aproveitar o momento, curtir as pessoas que me deixaram feliz nem que por um segundo, não são sensações sexuais num sentido mais profundo ou sensações afetivas elevadas, como a paixão. É simplesmente um explosão de vontade de se sentir vivo, como alguém que precisa pular de um avião pra perceber que ele mesmo é de verdade.
Conheço mesmo apenas duas pessoas que agem dessa forma boa comigo, do jeito que eu gostaria que fosse. Uma delas tem 13 anos de idade e a outra é uma garota que às vezes pensa que esse tipo de atitude é infantil. Não é infantil, é verdadeira! Não tem coisa mais relaxante do que ganhar um belo abraço curador ou pegar na mão "involuntariamente" enquanto andamos por aí. Aliás, meio que depois que tive essas experiências com essa garota (Lala-chan!) é que fui perceber que era isso mesmo que eu estava guardando há tanto tempo.
Mais uma vez, essas sensações não são sexuais ou afetivas em um grau profundo, são apenas vontade de compartilhar a energia que está alí naquele momento.
Vejo que muitas das pessoas ao meu redor se aproximam até o limiar disso mas não passam dessa barreira por nada. Elas não são superficiais, mas também não se deixam ir mais a fundo nas coisas. "Paz e Amor", no cliché não apenas dos hippies, é assim que penso que as coisas devem ser, e a tal bolha é justamente o medo do amor (já imagino uma música chamada "fear of love"). Muito medo do amor (em seus vários graus) e de deixar que sua vida seja mais natural. Medo de tocar, abraçar, segurar e apertar. E o pior: à primeira abertura que dão à essas manifestações, sentem medo de perdê-las, a ponto de por vezes se distanciar ao máximo para não correr o risco de se machucar.
Mas nesse caso, o machucado não passa de um ralado no joelho de quando caímos de bicicleta. Apesar do nosso mundo mais "liberado" e de cabeça aberta, muita gente é higienizada o suficiente pra ter medo de cair pouco - e por isso às vezes caem de MUITO ALTO e se deformam de vez.

1 comentários:

Laís disse...

Não acho que esse tipo de entrega ingênua é infantilidade (imaturidade!), chanzinho. Não mais.

Na verdade, eu me sinto como uma boa criança nesses momentos. E essa mesma pessoinha de 13 anos também me faz querer agir com a mesma sinceridade que tinha outrora, distribuindo presentinhos feitos a mão sem medo de ser ridicularizada.