sábado, 17 de março de 2007

Os Acordo

Relendo o post anterior, comecei a lembrar dessa historia:



Havia o Ser sensorial. Era um ser que vivia normalmente, e que buscava o
prazer. Conseguia-o por meio dos sentidos. As sensações é que lhe agradavam, as
sinestesias o deixavam delirante. O toque era importantíssimo, o cheiro,
imprescindível, a audição se aguçava automaticamente. Nas terminações nervosas
da pele sentia o outro, até os pequenos átomos deviam se tocar, apertava o outro
contra o corpo, esfregava-lhe a língua, roçavam-se os lábios, estourava-lhe o
peito. Fechava-se os olhos, assim a energia fluía melhor nos demais
sentidos.
Assim viveu o Ser sensorial até que passou bem no meio da sua vida o Novo.
O Novo era um ser diferente do Ser sensorial. O Novo, pelo que se percebeu mais tarde, também buscava o prazer. Mas o fazia de uma forma diferente do Ser sensorial. O Novo gostava muito de apenas estar ao lado de alguém, o
toque era apenas o toque, e já era suficiente para se criar a comunicação dos
prazeres. Tinha em sua constituição a placidez e a beleza de um quadro da
Renascença.
Foi esse conflito de diferenças que fez com que o Ser sensorial se apaixonasse pelo Novo. E foi o Novo quem primeiramente suscitou, conscientemente, o desejo no Ser sensorial.
Ocorreu que, imediatamente, surgiu uma barreira entre os dois novos conhecidos. Eram quase que completamente opostos, o Ser sensorial queria tocar, lamber, cheirar; o Novo queria apenas estar, comunicação telepática, corrente elétrica que flui entre os corpos através do escasso ar que os separa.
O Ser sensorial quis desistir, o Novo quis desistir. Esqueceram-se de que eram mutáveis, que deveriam incorporar um pouco do outro sem perder sua essência, que deveriam QUASE se tornar um. Esqueceram-se de que eles mesmos haviam criado a noção abstrata de seu Ego.
Passou-se pouco tempo e o Ser sensorial resolveu incorporar um pouco do Novo, e, ao mesmo tempo, o Novo resolveu incorporar um pouco do Ser sensorial. A partir de então, com os esforços necessários, conseguiram se entender planamente e ambos encontraram o prazer na companhia do complementar. O Ego (o medo) cedera seu lugar ao prazer, o sentido de suas vidas.
São felizes o Ser sensorial e o Novo, encontraram no outro aquilo que procuravam. São conhecidos como Acordo.