quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Sofre menos o imbecil por não perceber que está sofrendo

Vou sempre sentir um vácuo na boca do estômago quando souber de algo que não fui.
Principalmente quando a minha vontade é de ter sido.
Uma incerteza, ao invés de ser esclarecida foi trancada num calabouço para ser esquecida e não me arranhar mais por dentro. Porém as unhas crescem mesmo depois de morto, e as marcas deixadas pela violência agora formam cicatrizes como as de Dorian Gray.
Quando eu não fui, o vácuo volta para a boca do estômago.
Se tudo o que mais desejei foi amor, não é certo ter medo de não receber amor. Por certo tempo não o recebi e por isso quis guardar pra mim o que eu tinha para dar. Mas amor também apodrece quando guardado num fundo de baú.
Por saber que poderia ter sido e não foi, meu vácuo me acordará de madrugada. Não devo entender isso como uma maldade ou assombração, mas como um aviso do que não devo fazer. Aquele amor que guardei apodeceu e está preto como uma fruta velha. Mas vai ser com os restos dele que vou adubar os que me surgirem daqui em diante.
Se não tive força ou coragem é porque estive sozinho. Em companhia não se sofre, se consolam.
Ofereço minha companhia para quem merecer: somente quem já sofreu pode entender minha companhia, somente quem conhece a tristeza como uma velha sombra pode entender minha companhia. Alguém que já apanhou uma vez levanta os braços e esconde o rosto para as pauladas seguintes. A dor sempre será dor.
Não é fácil ser imbecil, e ter que sentir a boca do estômago sendo sugada pelo vácuo toda vez que penso no que não fui.
As coisas mudam com ações. Os pensamentos organizam as futuras ações.
Para cada vez que eu não fui, um soco na parede. Espero que, quando vir meu próprio sangue eu possa ver nele a força pra me destruir e construir de novo.

Não quero mais ser imbecil e perder aquilo que já estava nas minhas mãos.

2 comentários:

Laís disse...

"Não quero isso pra mim".

Mura disse...

Covarde é a palavra.

"Não vou aí nem fodendo".

Covarde é a palavra.