quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Olhos

Não chegue perto de mim e diga

- Bom dia

Olhando para a porra do chão. Por que há tanto desconforto em dividir o elevador comigo por míseros DOIS andares? TRES andares? QUATRO andares? CINCO andares? SEIS andares?
Você quer que eu faça uma gracinha? Quer que eu pergunte da porcaria do teu cachorro triste que vive tão preso quanto nós dois?
Andando na rua todos se escondem por detrás daqueles óculos idiotas, parados, com os óculos cobrindo todo o rosto. Tudo escuro, sem vida, um corpo que se mexe! Uh, viva, temos um corpo sem graça mexendo, com pressa, com compromisso, com compromisso pra ser feliz, com hora marcada na Yoga.
Morra!
E nasce outra vez, pelamordedeus. Nasce outra vez pra eu poder olhar e dizer:
- Bom dia. Olha, tenho a sensação de que está tudo errado. Sou louco ou sou normal?

Tudo isso te falo com o olho.

- Bom dia - e então se acua no canto do elevador, ou olha pro teto. Olhos de Medusa, que petrificam o ser humano.

Ódio. Fui proibido de odiar. Me disseram que vou sofrer se odiar. Mas já sofro, e também sofro pra não odiar. Ora, que raio de recompensa é essa que ficam me prometendo?
Aliás, ninguém me prometeu nada! Me disseram que era pra eu mesmo me prometer as coisas.
Me disseram o nome das coisas e ainda me deram um dicionário e um enciclopédia. "Não vai mais errar o nome de nada, não vai"- isso sou eu mesmo dizendo de dentro pra fora. Mas também é você, e é a pessoa do elevador que olha para o chão

- Bom dia.

1 comentários:

Pina disse...

quanto mais individualista uma pessoa é, mais ela quer morar num condomínio; é aquela contradição: as pessoas querem se sentir seguras porque tem medo dos outros, mas só podem se sentir seguras se não estiverem sozinhas.

belo texto